Durante depoimento prestado na última terça-feira (10) ao Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) negou qualquer envolvimento na incitação aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram invadidas por manifestantes. Segundo ele, não houve qualquer estímulo de sua parte para ações ilegais ou golpistas.
“Repudiamos tudo aquilo. Não tem nada meu ali estimulando aquela baderna”, declarou Bolsonaro à Primeira Turma do STF, ao ser questionado no processo que investiga tentativa de golpe de Estado. Ele é o sexto réu a ser ouvido no caso.
O ex-presidente ainda minimizou os frequentes apelos por intervenção militar feitos por seus apoiadores durante protestos contra o resultado das eleições de 2022. Em tom crítico, chamou de “malucos” os que pedem o retorno do AI-5 — o Ato Institucional nº 5, instrumento de exceção editado durante a ditadura militar e considerado um dos mais duros da época.
“Tem os malucos com essa ideia de AI-5, intervenção militar… Isso não existe. Os chefes das Forças Armadas jamais embarcariam nisso só porque o pessoal estava pedindo”, afirmou.
Durante o depoimento, Bolsonaro mencionou que, antes de deixar o país rumo aos Estados Unidos, gravou uma live em que desautorizava confrontos e que, nos dois meses seguintes à derrota eleitoral, permaneceu recluso no Palácio da Alvorada. “Se eu quisesse o caos no Brasil, bastava ficar quieto. Mas pedi a desobstrução de vias. Fiz o possível para pacificar.”
A Procuradoria-Geral da República, representada pelo procurador Paulo Gonet, questionou se o ex-presidente teria se omitido ao não atuar para desmontar acampamentos montados por apoiadores em frente a quartéis, muitos deles com faixas defendendo uma ruptura institucional.
Bolsonaro disse que, nos encontros com manifestantes, procurava orientar os mais exaltados. “Alguns falavam em AI-5, e eu perguntava: ‘Você sabe o que é isso?’ Muitos nem sabiam. Intervenção militar? Isso não existe, é suicídio. Era melhor deixá-los desabafar do que agir com força e provocar algo pior na Praça dos Três Poderes”, completou.
Apesar de negar ligação direta com os atos golpistas, a Polícia Federal segue apurando a possível responsabilidade de Bolsonaro na tentativa de subversão da ordem democrática no país. Em janeiro de 2023, as manifestações terminaram com a prisão de dezenas de envolvidos e forte repressão após a invasão das instituições federais.